segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Descobri o Seedr :)

Nem sei muito bem como explicar isto, mas esta coisa maravilhosa veio parar-me ao colo virtual e não consigo deixar de utilizar. O Seedr torna os downloads de torrents muito mais fáceis que o normal cliente de Torrent, e nem sequer te chateia com publicidade.

A sério, fazes downloads de filmes em direto para a cloud e depois e só copiares o ficheiro, o tempo que demora a sacar o filme é o tempo que te demoraria a copiar para um disco externo usb 2.0... brutal :)

Este é o link a seguires para te inscreveres, porque assim ganhas mais espaço: https://www.seedr.cc/?r=41931

Ah, e eu também... :)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A pé pela Linha do Tua


Há muito que ouvia falar sobre a Linha do Tua. Envolta em polémica devido aos acidentes que por vezes lá ocorriam e, mais tarde, devido à barragem que se irá construir ali, este é um local que se tornou conhecido após alguém resolver que era engraçado fazer a Linha desativada a pé e ter descoberto uma experiência fantástica. Há muito que o objetivo de fazer a Linha a pé estava no meu imaginário, mas foi preciso uma conversa entre amigos num batizado para a coisa ganhar forma e força. Juntaram-se os que puderam e no início de Agosto lá fomos.

Fazer esta Linha é uma coisa extraordinária. Primeiro que tudo, porque temos uma vista única do vale do Tua. As estrada passam todas lá em cima dos montes, enquanto que a linha acompanha o curso do rio cá em baixo. É a possibilidade de ver tudo sob uma perspetiva diferente. Aliás, o percurso de carro que vai da Foz do Tua ao Cachão, que fizemos no regresso, tem mais 20 kms e raramente nos dá uma vista do rio e do vale. Por isso, fazer este percurso a pé permite uma experiência única.


Por ser uma linha que está desativada, e onde, supostamente, é proibido andar, nada está preparado para receber o caminhante: não há albergues, pontos de água regulares, ou sequer informações sobre o caminho. Por isso, a solução é utilizarmos as indicações que vamos vendo nos blogues de quem já fez o caminho e decidiu partilhar a sua experiência. Neste sentido, são muito úteis o blogue A Linha é Tua (www.alinhaetua.blogspot.pt), que recolhe informações sobre a Linha e pretende sensibilizar para a destruição que a barragem vai implicar, e o Viajar entre Viagens, da Carla e do Rui, que relatam uma viagem de 2012. Com a devida vénia e agradecimento, pois foi neste último blogue nos apoiámos para a viagem, vou utilizar a base deles e atualizar aqui algumas informações que eles têm e acrescentar outras que vimos e soubemos em Agosto de 2013. Exatamente porque é um caminho que não está preparado para receber turistas (no posto de informação em Mirandela não havia uma única informação disponível sobre o caminho), as condições vão-se alterando: há estações que estavam fechadas e que entretanto foram abertas porque se deitaram abaixo portas emparedadas, e estações que estavam abertas e entretanto foram fechadas. Neste sentido, a 1 de agosto de 2013, este foi o caminho que realizámos:


Dia 1

Partimos de Lisboa pela manhã. O objetivo era evitar a hora de maior calor na estrada. Como somos de Almada, planeámos uma viagem de 4 dias: o primeiro para viajar até Mirandela, dois dias de caminhada e o último para regressar a casa. Para Mirandela há quase sempre autoestrada. Fomos pela A1 até cruzarmos com a A25, na qual fomos até apanharmos a A24, e depois saímos para Mirandela. Antes de mais, um desabafo: eu gostava que alguém me explicasse como é que a A25 e a A24 são consideradas auto-estradas. Têm duas faixas para cada lado e o terreno é tão sinuoso que é impossível manter uma média de 120km/h em qualquer um dos troços, com descidas e subidas com 7% de inclinação, pelo que é inconcebível que se tenha de pagar portagens para fazer uma estrada nestas condições. Mas enfim, é o país que temos…
Chegámos a Mirandela e fomos almoçar ao restaurante Loureiro. Uma simpatia de gente, que nos serviram uma alheira à moda da casa maravilhosa, com uma tira de bacon e ovo estrelado, e barata. Fica o nome para que quem lá vá possa desfrutar do mesmo pitéu.
De tarde passeámos pela cidade de Mirandela enquanto o calor nos permitiu. Visitámos o Santuário de Nossa Senhora do Amparo, a Igreja matriz, passeámos pelo centro da cidade, e fomos parar a um café fantástico com uma esplanada sobre o rio. Os empregados não eram particularmente prestáveis ou simpáticos, mas a localização era óptima. Dali só saímos para a praia fluvial de Mirandela, um pouco ao lado, onde tomámos um banho que nos soube pela vida, tendo em conta o calor que estava.

Depois da banhoca, fomos até ao Parque de Campismo de Mirandela, local onde iriamos passar a primeira e a última noite. O parque fica a cerca de 1 km da cidade, e é conveniente ir para lá de carro, porque não sei de autocarros e a pé é um pouco longe para ir e vir da cidade. O parque é muito catita, pequeno mas muito bem arranjado, cheio de auto-caravanas e instalações que parecem mais casas que campismo, com antenas parabólicas, aparelhos de ar condicionado. Aliás, a ideia de campismo é algo que escapa a muitos destes “campistas”… : )
O parque custa 3,5€ por pessoa/noite, e mais 3,5€ por tenda/noite. Ter o carro lá dentro custa mais 3€ e eletricidade 2€.
O caminho da Linha do Tua tem de ser feito em autonomia, pelo que fomos às compras e abastecemo-nos dos mantimentos que iriamos necessitar. Gastámos 28€ para refeições de 2 dias completos para 5 pessoas, e ninguém passou fome. Aliás, ainda sobrou alguma comida, mas como tínhamos trazido barras energéticas de casa, é como se fosse ela por ela.

Dica: Se pretenderem usar o Parque de Campismo como base, pode ser interessante deixar a tenda lá no dia em que estão a caminhar. Têm de pagar uma noite que não vão usar, mas como o check-in fecha às 22h e só existe táxi de regresso a Mirandela às 20h, que pode fazer várias paragens, podem correr o risco de não chegarem a tempo ao parque para fazer o check-in de novo. E têm a vantagem de chegar do caminho e a tenda já estar montada… : )

Dia 2

Acordámos no dia seguinte e pusemo-nos ao caminho. A Linha do Tua desativada começa no Cachão, pois entre o Cachão e Mirandela circula o Metro. Nós fomos para o Cachão de carro e deixámos lá o carro, mas quem quiser pode deixar o carro em Mirandela e apanhar o metro para o Cachão. Se o fizerem, recomendo que apanhem o metro das 7h55, que chega ao Cachão às 8h15 (http://www.cp.pt/StaticFiles/CP/Imagens/PDF/Passageiros/horarios/regional/linha_tua.pdf). Nós chegámos ao Cachão prontos para arrancar pelas 9h15. Se conseguirem um pouco mais cedo seria o ideal, já vão perceber porquê mais à frente. No Cachão há um café de uma senhor muito simpática onde a malta se pode abastecer, beber o café e iniciar viagem. A senhora foi simpática o suficiente para nos guardar o carro no terreno dela, mesmo em frente ao café, mas a estação do Cachão tem estacionamento para deixar o carro em segurança, segundo ela. Não nos abastecemos muito, porque já vínhamos preparados com água e comida, que sai sempre mais barata nos supermercados que nos cafés.



Dica: O maior problema do caminho é a água. Não há muitos pontos de água espalhados, e é preciso ter atenção a isso. De qualquer das formas, os pontos de água ou possibilidade de atestar que encontrámos vamos colocá-los aqui, para que a malta tenha noção do que vai encontrar. Pontos de venda de comida também não, por isso temos mesmo de ir em autonomia, com tudo o que vamos necessitar.

A ideia era fazer o percurso em dois dias, indo dormir a São Lourenço, que era o que nos tinham recomendado os vários blogues. Assim sendo, o primeiro dia são 26 kms e o segundo dia 13kms de linha, com mais uma subida para o Fiolhal. O nosso plano era acabar no Fiolhal, e não descer até à Foz do Tua. Contactámos o senhor do táxi que substitui o comboio neste percurso e combinámos que nos iria buscar ao Fiolhal.

Começámos então viagem no km 41, num troço de linha bem verde, acompanhados de perto pelo rio que, quase à mesma altitude que nós, convidada a banhos. A primeira dificuldade do caminho é, desde logo, caminhar na linha. As madeiras não estão à distância de passos normais (os homens têm de encolher o passo, as mulheres de o esticar), pelo que é preciso andar meio na tábua, meio no cascalho. No início do percurso é possível fazer isto, mas lá mais para meio o cascalho torna-se maior e temos mesmo de andar apenas em cima das madeiras. No início, o ritmo atrofia e há uma tendência de ir sempre de olhos no chão para não tropeçarmos. Correm o risco de perder a paisagem linda de olival que nos acompanha, pelo que não se esqueçam de olhar para cima de vez em quando…



Pelo caminho, se formos com atenção, é sempre possível encontrar alguns dos habitantes da linha, como verão. Este foi o primeiro com quem nos cruzámos.


Ao fim de 5 kms a primeira paragem: a estação de Vilarinho. Quando a linha encontra o alcatrão, chegamos à estação e fazemos a primeira paragem.

Dica: a distância entre estações e apeadeiros é sensivelmente a mesma. Se forem descansando em cada estação e apeadeiro mantêm sempre o ritmo. Foi essa a nossa opção, e correu bem.

Na estação de Vilarinho o blogue da Carla e do Rui indica que há um ponto de água. Nem sequer o procurámos, porque íamos abastecidos, pelo que não foi possível confirmar se ainda lá estava ou não. A estação está fechada, mas o armazém ao lado da estação está aberto e permite abrigo. A linha está cheia de palha, mas circula-se bem.


De Vilarinho o percurso continua até Ribeirinha, a 3 km. Neste troço as vertentes estão cobertas de oliveiras e o trilho da linha tem bastantes silvas e ervas daninhas. A estação de Ribeirinha (km 34) foi convertida numa casa particular, e é possível abastecerem água nesse local. A aldeia de Ribeirinha fica também muito perto da linha, caso precisem de algo mais, mas não sei se terá algum café ou mercearia, pois não fomos ver.



Daqui para a frente, o vale do rio começa a ficar mais encaixado porque começam os afloramentos graníticos até alcançar a estação de Abreiro (km 29). Este percurso corresponde a aproximadamente 5 km. Antes da estação de Abreiro, que fica por baixo de uma ponte. Podemos ver do lado direito da linha a Ponte do Diabo. Segundo nos explicaram alguns pescadores que encontrámos na linha a regressar de uma manhã de pesca, esta ponte medieval foi destruída nas cheias dos anos 20 do século passado. Com umas tábuas, ainda era possível passar por ela, mas um padre do século passado entendeu que esta ponte era obra do Diabo ou algo assim e destruiu o resto. Sobram os pilares, e a calçada romana do outro lado do rio.

A estação do Abreiro, 12 kms depois de termos partido, é um bom local para almoçar e pôr os pés de molho. A estação está aberta (partiram as portas que tinham sido emparedadas) e dá para descansar lá dentro. Como fizemos a caminhada em Agosto, o calor era bastante, por isso resolvemos sempre parar nas horas de maior calor. Ao lado da estação há um caminho que nos leva por baixo da ponte metálica para um local com erva onde é possível descansar, dormir uma soneca à sombra e molhar os pés, ou mesmo tomar banho. Não o fizemos porque estava vento, mas a área tem condições para isso. Tínhamos indicação de que haveria um fonte de água do outro lado do rio, mas uma das pessoas do grupo foi procurar e não a encontrou. No entanto, os mesmos pescadores que encontrámos também nos confirmaram que deveria haver lá a fonte…
Como o almoço previsto eram sandes, não foi preocupante, mas se pretenderem cozinhar, tenham atenção a isto.


Depois da merecida soneca (que nos soube pela vida), retomámos caminho para aquela que foi a parte mais dura do caminho. Passámos pela primeiro ponte metálica do percurso e seguimos até Codeçais (km 25) num caminho um pouco duro, pois os 4 kms têm poucas sombras. Antes de chegar à estação, existem dois pontos de água. São canos que saem da rocha, e não conseguimos perceber se eram nascentes ou não. A água era gelada, onde caía do cano havia muito musgo, e sabia bem, mas não podemos garantir que fosse nascente. Provámos a água e seguimos viagem. Parámos em Codeçais cheios de calor, e quando seguimos viagem as reservas de água começaram a ficar num nível que poderia ser complicado. Por isso, quando umas centenas de metros à frente da estação encontrámos outro ponto de água igual aos anteriores, não hesitámos: enchemos os cantis de água fresca, bebemos à vontade e seguimos caminho. Dos 5 que compunham o grupo, um teve uma indisposição à noite, mas não sabemos bem do que foi. Todos comemos e bebemos do mesmo, mas só ele se ressentiu. Coloco aqui a indicação porque também pode ter sido da água, mas também pode não ter sido.

Dica: Quer seja para recolher água destes pontos, quer seja para recolher água do rio, em caso de emergência ou para cozinhar, pode sempre ser útil levar as pastilhas de purificação de água, que resolvem os problemas todos.

Este troço depois da estação de Codeçais é o mais duro. São 4 kms sempre à torreira do sol até se chegar à estação da Brunheda. Não há sombras, por isso é importante ter muita água. A estação da Abrunheda está aberta e, no caso de considerarem fazer a caminhada em 3 dias, poderia ser o melhor local para passar a noite antes de São Lourenço. A estação está aberta e perto tem uma adega. Vimos lá carros, mas não fomos investigar. O nosso taxista, o Sr. Viriato, disse-nos depois que podemos ir à adega do Engº Mesquita, explicar quem somos e pedir para visitar a adega. Eles dão-nos água e ainda nos deixam provar o vinho que lá fazem. Segundo ele, são muito acessíveis, portanto acho que vale a pena a pausa, mas nós não a fizemos.


Depois da Brunheda, começam a aparecer sombras e o terreno começa a ficar com fragas de granito e o rio fica um pouco mais abaixo. São 3 kms até ao apeadeiro do Tralhão (km 18) e depois mais 3 kms até São Lourenço. O apeadeiro do Tralhão está fechado e tem umas escadas de lado onde permite descansar à sombra, mas sem pontos de água. Daí até São Lourenço o sol já estava escondido por trás dos montes, por isso caminhámos grande parte do percurso à sombra. O rio aqui entra na parte de vale e começa a ficar mais picado, com elevações altas de um lado e de outro.

Com o final do primeiro dia a aproximar-se, comecei a aperceber-me de uma das maravilhas deste caminho: quando o corpo entra no ritmo da caminhada, e como vamos completamente sozinhos (nos dois dias cruzámo-nos com um grupo de escuteiros à chegada ao Fiolhal, no fim, os pescadores antes do Abreiro e umas pessoas que cumprimentámos na Ribeirinha, nada mais), este é um excelente caminho para pensarmos sobre a vida. Aliás, uns Exercícios Espirituais em andamento seria algo de muito interessante, até porque as estações proporcionam paragens regulares… fica a ideia para os jesuítas que lerem estas linhas.


Quando chegámos a São Lourenço, por volta das 19h, tínhamos a ideia de pernoitar na estação, mas encontrámo-la fechada, ao contrário das indicações que tínhamos lido. Subimos à aldeia para vermos das termas, mas também já tinham fechado (funcionam das 9h-13h e das 15h às 19h). Um dos habitantes da aldeia indicou-nos a fonte um pouco mais acima onde poderíamos tomar banho e ter água. Subimos e vimos do que se trata: a fonte está dentro de uma espécie de templo a São Lourenço, e sai para dentro de um tanque, onde nos podemos banhar. No entanto, aquela água, apesar de aparentemente potável, tem um cheiro desagradável, a ovos podres. Dá para tomarmos banho lá, e é tranquilo, mas para abastecer de água para cozinhar recomendo que utilizem uma torneira que está do lado de fora do templo com o tanque, que apenas deitava um fiozinho de água, mas que sabia bem melhor que a outra. De qualquer das formas, se chegarem antes das 19h, podem ir às termas pedir água, e aí será certamente melhor.
O templo tem um terraço por cima onde cozinhámos e onde passámos a noite. A aldeia não tem nenhum café o coisa do género, e o mais próximo, segundo nos disseram, fica a 20 minutos de caminhada. Depois de 26 kms a pé, não fomos ver onde era…
Jantámos arroz à escuteiro, com salsichas, chourição, ovos cozidos, enfim, tudo o que tínhamos nas mochilas e que tinha sobrado do almoço. A mistura foi tanta que não sei mesmo se o P. não se sentiu mal do jantar… : )

Dica: Trouxemos para a caminhada um toldo leve. Serviu para fazer de sombra, de abrigo para a noite, e de proteção para o chão. É uma opção leve e muito útil, que substitui perfeitamente a tenda, mesmo para dormir ao relento, pelo menos neste tempo quente de Verão.

Parece que houve umas pessoas que resolveram de madrugada vir tomar banho ao tanque, mas eu não dei por nada. De qualquer das formas, fica a indicação de que dormir aqui pode não ser absolutamente tranquilo para quem tem o sono leve. Se dormirem lá em baixo perto da estação também nos disseram que era tranquilo, nós é que resolvemos dormir onde tínhamos jantado.


Dia 3

Arrancámos bem cedo, cansados, mas animados com o facto de hoje serem apenas 13 kms. São Lourenço é o ponto de cota máxima da barragem, pelo que os 13 kms que fizemos neste dia serão os que ficam submersos pela barragem quando esta estiver pronta. É também a parte mais bonita do caminho, pelo que é mesmo de aproveitar enquanto a barragem não fica completa. O caminho é todo feito com fragas a pique e o rio lá em baixo, mais ou menos próximo.


A primeira paragem é a estação de Santa Luzia (km 13), que, apesar de a estação estar fechada, tem um armazém aberto para nos abrigar. Do outro lado do rio há a povoação de Amieiro e um teleférico fazia a ligação entre as duas margens. O teleférico está desativado, porque sem comboio não há razão para alguém vir para este lado, pelo que apesar de a povoação estar perto, não vimos forma de lá chegar.

À saída da estação de Santa Luzia, os carris desaparecem por alguns metros. Alguém precisava de vigas para a sua casa e serviu-se. Umas centenas de metros à frente, a linha está bloqueada por um desabamento de rochas. Alguém travou o resto do desabamento com cabos de aço, pelo que se passa com segurança pela zona. A partir daqui, com a luz da manhã, começamos a ver a beleza do rio e da linha, que rasgam as fragas. Passamos também pela segunda ponte metálica do percurso. São quatro as pontes metálicas, e todas em excelentes condições de segurança e conservação.
Por várias vezes, a linha segue em paralelo com o rio, bem lá em baixo, tornando a paisagem lindíssima. Mais à frente passamos pela terceira ponte metálica e logo à frente o primeiro túnel. 

 
Dica: Existem 5 túneis, se a memória não me falha, uns maiores que outros. São ótimos pontos de paragem, mas nenhum deles tem condições para se passar a noite dentro deles, porque o chão é cascalho, tábuas e vigas dos carris, sem espaço para mais nada. Ah, e alguns têm morcegos e aranhas aos montes…

Cerca de 5 kms depois de Santa Luzia, chegamos ao apeadeiro do Castanheiro (km 7). O apeadeiro está todo emparedado e não tem sombra nenhuma, mas se olharmos para o outro lado da linha, é impossível evitar um sorriso: uma bela praia fluvial de areia e erva dispõe-se ali para dar descanso aos caminhantes. A água fresca sabe muito bem, e por isso decidimos parar ali para tomar banho, fazer o almoço e deixar passar a hora do calor. Meus amigos, e que bem soube a banhoca! Quando estamos de molho dentro de água, os peixes curiosos aproximam-se dos nossos pés e começam a bicar. É uma esfoliação gratuita muito agradável, e vale bem a pena.
Depois do banho, cozinhámos o nosso esparguete com atum, almoçámos e dormimos a sesta merecida. Não há pontos de água, portanto tivemos de usar as nossas reservas para o almoço. Outra opção será a água do rio fervida. Em caso de emergência será uma opção boa, mas será sempre preferível usar a água que trouxerem de nascente.


Dica: No segundo dia não encontrámos nenhum ponto de água a não ser o rio. É conveniente atestarem bem em São Lourenço, principalmente se, como nós, pretenderem cozinhar a meio do percurso. Só voltámos a ter água no Fiolhal, no fim do caminho.

Arrancámos já o sol estava mais baixo, para evitar a torreira do dia anterior, até porque a distância a percorrer seria menor. Ao km 6 temos um túnel e uma ponte num dos locais mais bonitos do percurso, com uma encosta de pedra do outro lado do rio. Vale a pena parar e absorver a paisagem. O caminho mantém-se depois sensivelmente o mesmo, mas à chegada ao último túnel do percurso (o último a sério já é depois das obras, pelo que não é possível lá chegar) encontrámos um pobre pássaro que não conseguia levantar voo. Ainda tentámos ver se teria algum problema, mas aparentemente não, pelo que nada podíamos fazer por ele a não ser deixá-lo num local onde não se magoasse. Provavelmente não sobreviverá, mas se alguém passar por lá nos próximos dias, procure por ele…


Quase 1 km depois, encontramos o apeadeiro do Tralhariz (km 4). Tem uma das portas emparedadas partida e dá para entrar na estação, mas está muito suja. Aliás, isto foi algo que se notou em muitas das estações onde parámos. Era visível que tinham lá estado pessoas não só pelos restos de fogueiras, mas também pelo lixo acumulado que se via nos locais. Não há pontos de lixo em toda a linha, pelo que é necessário carregarmos todo o lixo connosco. No entanto, há, como sempre, gente muito preguiçosa que deixa as latas de atum e os pacotes de sumo espalhados por todo o lado. Imbecis acho que é o termo científico que os designa…

Depois do Tralhariz começam a ver-se as obras da barragem. Está a ser construída do outro lado do rio uma represa grande para que as terras não venham por aí abaixo quando a água por ali começar a subir, e é aí que nos lembramos que grande parte do que vimos vai desaparecer em breve, e é a parte mais bonita que vai ficar submersa. Fiquei triste pelo local que vai desparecer, e ainda mais feliz por me ter desalojado do sofá e me ter posto a caminho. Não há como conhecer o nosso país para aprendermos a dar-lhe mais valor, e esta memória já ninguém ma tira, nem a água da barragem…



Chegados ao km 3, a linha desaparece por completo. Tirámos as fotos da praxe e iniciámos a subida para o Fiolhal. O caminho de terra batida fica do ladoesqerdo da linha e é fácil de encontrar. São 1,5 kms de subida para um desnível de 300m, à torreira do sol, com poucas sombras. No fim do caminho, é doloroso, extenuante, e chegamos lá acima derreados, pelo que atenção a esta subida, o caminho da Linha do Tua não acaba no km 3…

 
Chegados ao Fiolhal, fomos bem recebidos pela população local que nos abasteceu de água, que já vinha nas últimas, já que na subida foi sempre a consumir. Daqui à Foz do Tua é possível descer a pé, pela estrada ou por atalhos, num caminho de cerca de 6 kms por estrada. Nós tínhamos apontado apenas chegar ao Fiolhal e esperar pelo táxi do Sr. Viriato, a quem tínhamos ligado, mas um simpático habitante do Fiolhal ofereceu-se para nos levar à estação da Foz do Tua, pois ali não havia cafés e lá poderíamos descansar melhor e beber algo fresco. Assim, fomos à boleia numa carrinha de caixa aberta até à estação e lá ficámos a aguardar o Sr. Viriato e o seu táxi.

 
Dica: Quem pretender fazer o caminho todo tem de contar com a distância para a Foz do Tua. Esses kms a mais podem colocar um peso extra no segundo dia ou eventualmente obrigar a um terceiro dia de caminhada. Nesse caso, seria eventualmente de dormir no Fiolhal, por causa da água, já que não há pontos de água ou aldeias entre São Lourenço e o Fiolhal, ou então arrancar cedo e fazer mais kms de uma só vez…

Para regressar ao Cachão, existe um serviço de táxis que faz o percurso Foz do Tua – Cachão às 12h05 e às 19h55. Podem utilizar esse sistema ou, caso não tenham vindo de carro, na Foz do Tua podem apanhar um comboio para o Porto (horários aqui: http://www.cp.pt/StaticFiles/CP/Imagens/PDF/Passageiros/horarios/regional/porto_regua_pocinho.pdf). Para os táxis, é preferível ligarem sempre com antecedência para o Sr. Viriato (o número está no primeiro link que coloquei mais acima) para ele ir a contar com o grupo e levar um carro que leve toda a gente. A viagem dura mais ou menos uma hora e se forem com paciência deem corda ao motorista, que a viagem vai ser inesquecível… com sorte, ainda vos leva a ver os animais feitos em pedra, uma raridade local que ninguém sabe onde apareceu… a sério, dêem-lhe corda que não se vão arrepender!

Dica: A Linha do Tua pode ser feita neste sentido ou ao contrário, começando na Foz do Tua e subindo até ao Cachão. Não têm de fazer a subida para o Fiolhal, mas penso que terão de fazer os outros kms todos a subir, pois há uma ligeira inclinação. Além disso, terão os kms ao contrário: 13 no primeiro dia (mais os kms a partir da Foz do Tua, se começarem de lá), e 26 no segundo, o que também pode não ser bom. Eu recomendo fazerem como fizemos, até porque se não levarem carro seguem logo para o Porto no comboio.

Chegados a Mirandela, fomos jantar numa barraquinha de nome sugestivo: Mc da Erica. Regressámos ao parque de campismo e dormi muito bem. Eu, porque havia festa na cidade e os DJs ficaram até às 6 da manhã a bombar e o resto da malta queixou-se de manhã... :)

Dia 4

No último dia, fomos a banhos de manhã, porque o parque de campismo tem um açude junto do rio Tua perfeito para uns mergulhos (também tem piscina, mas paga-se à parte), almoçámos pela cidade e fomos embora da parte da tarde, fugindo do calor. Portanto, para quem é de Lisboa, recomendo os 4 dias de passeio, para tudo se fazer com calma.

Dica: querem um souvenir inesquecível? Apanhem um parafuso da linha, há vários espalhados ao longo do caminho...

Mais uma vez, obrigado à Carla e ao Rui e ao seu post que muito nos serviu: http://viajarentreviagens.blogspot.pt/2012/06/pe-pela-linha-do-tua.html . Quanto ao resto da malta, façam-se à linha enquanto é tempo!!!!!

Deixo aqui uma galeria com as melhores fotos do caminho, a ver se abre o apetite de quem ainda está indeciso. Para quem ainda ficou com dúvidas, usem a caixa de comentários que responderei ao que souber.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Peixinhos nos pés, ou Fish Massage


Desde que chegámos a Siem Reap que isto estava na minha ideia: fish massage. Sim, certo, também queria ir (e fui) às outras massagens, que são divinais (sem happy ending), mas estas captaram-me de imediato a curiosidade. Deixar que uns peixinhos te comam toda a pele morta dos pés é uma experiência.... única, sim.

É que não são os peixinhos que vemos nos nossos centros comerciais, que são quase girinos, não, são tanques cheios de peixes de tamanho.... olha, de tamanho de peixe, pronto! :)


Qual é então a teoria? Bom, os peixes alimentam-se da nossa pele morta e, por conseguinte, fazem-nos algo parecido com uma esfoliação, que é uma renovação da pele, retirando a pele morta para que a pele se renove.


Depois de ver o preço então, mais convencido fiquei que era um item a não perder. Custava 1 dólar 15 minutos e ainda te ofereciam um refresco... e pronto, lá fui. Ao início, há um choque. Para mim que não tenho cócegas nos pés, foi relativamente pacífico, mas para quem sofra desse mal, prepare-se, porque vai ser dolorosamente engraçado. Depois de nos habituarmos, fica normal e já quase nem damos pelos peixes que se vão banqueteando com a nossa pele morta.

Este é um negócio quase perfeito para os comerciantes, que apenas têm de limpar os excrementos que os peixinhos vão deitando fora e mudando a água, já que comida são os clientes que fornecem aos bichos... 

A experiência foi fantástica, como podem ver pelo vídeo e pelas fotos, e é claramente uma experiência a repetir, se voltar para aqueles lados do mundo alguma vez mais...


O milagre da vida numa palhota

Moçambique, província do Niassa, cidade de Cuamba, novembro de 2005

A Missão do Mitucué é um local extraordinário. Fica localizada no sopé de um monte com cerca de 300 metros de altura, que se eleva na vasta planície que compõe a zona da cidade de Cuamba. Parece protegida e segura, como se nada ali pudesse entrar ou fazer mal. O silêncio era de tal forma presente que não deixou ninguém indiferente. A única coisa má eram, de facto, as formigas. De um tamanho fora do normal, atacavam quem se aproximasse, provocando imensa comichão. Infelizmente, o tempo era de chuva e não estava ninguém na missão, pelo que não pudemos visitar as instalações nem a igreja. Assim, aproveitámos para, de carro, ir dar umas voltas às aldeias circundantes.


Depois de um tempo, a chuva acalmou e permitiu-nos subirmos a um monte para contemplarmos a vista que era, naquela zona, simplesmente fantástica. Na descida, cruzámo-nos com um grupo de crianças que por ali brincavam. Rapidamente se juntaram a nós, porque éramos arungus (palavra que significa Branco) e, principalmente, porque levávamos câmara fotográfica. Ainda hoje me surpreende o espanto que elas sentem quando lhes tiramos fotografias e quando se vêem retratadas no visor da câmara. É, para elas, algo difícil de entender, quase como se de magia se tratasse, e por isso elas ficam doidas Depois de umas fotos que elas adoraram, descemos e fomos para o carro.


Ao chegarmos lá, um senhor acenava-nos ao longe para lhe irmos tirar uma fotografia. Confesso que não tinha muita vontade de lá ir, mas lá acedi ao seu pedido e fui, juntamente com a Sara. Quando chegámos perto dele é que percebemos que o alvo da fotografia era um bebé, seu filho. Perguntámos que idade tinha e ele respondeu-nos que tinha 2 meses. Olhei para a Sara e entreolhámos os ombros, como quem diz: “Sim, e?”. Só quando estávamos a chegar perto da criança é que ele emendou o que tinha dito: não eram 2 meses, mas sim 2 dias… Aquilo só mesmo visto: uma criança com 2 dias, envolta em 2 capulanas, estremunhava deitada numa esteira à porta de uma palhota no meio de África. A emoção que senti foi indescritível, pois nunca tinha estado em contacto com um bebé daquela idade, principalmente naquelas condições, com todo o pó e pobreza que o rodeava. A mamã dele estava lá ao seu lado, na boa, sem qualquer tipo de limitação ou dor. Duvido que aquele tivesse sido o primeiro, daí a descontracção da senhora. O bebé era extremamente engraçado, pois os negros, ao nascerem, não têm ainda a pigmentação dessa cor, ou seja, nascem brancos, como nós, o que dava ao retrato que encontrámos uma tonalidade um pouco diferente da que estamos habituados…


Fizemos algumas festas ao recém-nascido, com todo o cuidado e cautela, quase com medo de o partir, e tirámos as fotos pretendidas pelo senhor. Entretanto, perguntei-lhe como se chamava a criança, ao que me foi respondido que ainda não tinha nome. De repente, o senhor diz: “querem ser vocês a dar o nome?”. Olhámos um para o outro e rimo-nos. Perguntei se era rapaz ou rapariga e disseram que era rapariga. Escolhemos, então, o nome óbvio: Sara, já que mais nenhuma das meninas lá estava. Eles riram-se e aceitaram, quase que orgulhosos por terem uma filha com um nome escolhido por arungus. Foi aí que surgiu a parte pior: o senhor pediu então que voltássemos lá para visitar a Sara e ver como estava a crescer. Olhei para cima, pois eu estava de cócoras, e respondi: “Não posso vir, vou embora a Portugal”. Nesse momento, invadiu-me uma sensação de tristeza e desconforto como até então nunca tinha surgido, pois foi a primeira vez que, ao fim de 15 meses naquela terra maravilhosa, me bateu a ideia forte de que me ia embora.


Não sei se esta menina alguma vez vai ficar a saber que, dois dias depois de nascer, foi visitada por dois brancos que por ali chegaram seguindo o Mitucué, que se elevava alto no céu, orientando o seu caminho. Alguém lhes anunciou a Boa Nova do seu nascimento e eles apressaram-se a ir contemplar e prestar a sua homenagem, tendo partido depois para nunca mais voltarem. Não levaram presentes, mas levaram uma câmara fotográfica que eternizou aquele momento para toda a história e distribuíram simpatia e carinho por todos os que ali estavam e que também tinham acorrido quando ouviram a notícia do nascimento. Parece-vos familiar a história?

O início...

O chá, a tagine, o azulejo, a escultura, o vitral, o sorriso, o lamento, o grito, a dor... elementos minúsculos de uma existência pequenina e insignificante no mundo tão antigo como ele próprio. Gosto de me chamar cidadão do mundo, como o grande visionário Baden-Powell disse que todos os escuteiros devem ser. Conheço pouco do mundo, daquele que está lá longe, e deste que está aqui bem perto. Conheço pouco, mas quero conhecer mais. Quero abrir as asas e voar, chegar onde conseguir e conhecer tudo e todos.

Partilhar histórias, registar momentos, trazer de volta vivências, que depois, com a humildade subjacente a quem sabe que pouco ou nada conhece deste mundo tão vasto e, ao mesmo tempo, tão pequeno, colocarei aqui, para meu deleite pessoal, antes de mais, porque escrever o que sabemos, conhecemos e amamos obriga-nos a viver de novo aquilo que nos deixou tanta saudade.

Em segundo lugar, deixar a porta aberta para que tu possas entrar, neste cantinho que fala do mundo que se conhece, e possas tomar conta de que mundo é este, e assim ganhares vontade de que o meu mundo possa ser, também, o teu mundo. Histórias de viagens, momentos loucos que deixaram marca e que, agora, passarão para este "papel", à velocidade que o tempo me deixar e a preguiça permitir.

Obrigado por me acompanhares nesta jornada. Vem daí!