Há muito que ouvia falar sobre a Linha do Tua. Envolta em
polémica devido aos acidentes que por vezes lá ocorriam e, mais tarde, devido à
barragem que se irá construir ali, este é um local que se tornou conhecido após
alguém resolver que era engraçado fazer a Linha desativada a pé e ter
descoberto uma experiência fantástica. Há muito que o objetivo de fazer a Linha
a pé estava no meu imaginário, mas foi preciso uma conversa entre amigos num
batizado para a coisa ganhar forma e força. Juntaram-se os que puderam e no
início de Agosto lá fomos.
Fazer esta Linha é uma coisa extraordinária. Primeiro que
tudo, porque temos uma vista única do vale do Tua. As estrada passam todas lá
em cima dos montes, enquanto que a linha acompanha o curso do rio cá em baixo.
É a possibilidade de ver tudo sob uma perspetiva diferente. Aliás, o percurso
de carro que vai da Foz do Tua ao Cachão, que fizemos no regresso, tem mais 20
kms e raramente nos dá uma vista do rio e do vale. Por isso, fazer este
percurso a pé permite uma experiência única.
Por ser uma linha que está desativada, e onde, supostamente,
é proibido andar, nada está preparado para receber o caminhante: não há
albergues, pontos de água regulares, ou sequer informações sobre o caminho. Por
isso, a solução é utilizarmos as indicações que vamos vendo nos blogues de quem
já fez o caminho e decidiu partilhar a sua experiência. Neste sentido, são
muito úteis o blogue A Linha é Tua (www.alinhaetua.blogspot.pt), que recolhe informações sobre a Linha e
pretende sensibilizar para a destruição que a barragem vai implicar, e o Viajar
entre Viagens, da Carla e do Rui, que relatam uma viagem de 2012. Com a devida
vénia e agradecimento, pois foi neste último blogue nos apoiámos para a viagem,
vou utilizar a base deles e atualizar aqui algumas informações que eles têm e
acrescentar outras que vimos e soubemos em Agosto de 2013. Exatamente porque é
um caminho que não está preparado para receber turistas (no posto de informação
em Mirandela não havia uma única informação disponível sobre o caminho), as
condições vão-se alterando: há estações que estavam fechadas e que entretanto
foram abertas porque se deitaram abaixo portas emparedadas, e estações que
estavam abertas e entretanto foram fechadas. Neste sentido, a 1 de agosto de
2013, este foi o caminho que realizámos:
Dia 1
Partimos de Lisboa pela manhã. O objetivo era evitar a hora
de maior calor na estrada. Como somos de Almada, planeámos uma viagem de 4
dias: o primeiro para viajar até Mirandela, dois dias de caminhada e o último
para regressar a casa. Para Mirandela há quase sempre autoestrada. Fomos pela
A1 até cruzarmos com a A25, na qual fomos até apanharmos a A24, e depois saímos
para Mirandela. Antes de mais, um desabafo: eu gostava que alguém me explicasse
como é que a A25 e a A24 são consideradas auto-estradas. Têm duas faixas para
cada lado e o terreno é tão sinuoso que é impossível manter uma média de
120km/h em qualquer um dos troços, com descidas e subidas com 7% de inclinação,
pelo que é inconcebível que se tenha de pagar portagens para fazer uma estrada
nestas condições. Mas enfim, é o país que temos…
Chegámos a Mirandela e fomos almoçar ao restaurante
Loureiro. Uma simpatia de gente, que nos serviram uma alheira à moda da casa
maravilhosa, com uma tira de bacon e ovo estrelado, e barata. Fica o nome para
que quem lá vá possa desfrutar do mesmo pitéu.
De tarde passeámos pela cidade de Mirandela enquanto o calor
nos permitiu. Visitámos o Santuário de Nossa Senhora do Amparo, a Igreja
matriz, passeámos pelo centro da cidade, e fomos parar a um café fantástico com
uma esplanada sobre o rio. Os empregados não eram particularmente prestáveis ou
simpáticos, mas a localização era óptima. Dali só saímos para a praia fluvial
de Mirandela, um pouco ao lado, onde tomámos um banho que nos soube pela vida,
tendo em conta o calor que estava.
Depois da banhoca, fomos até ao Parque de Campismo de
Mirandela, local onde iriamos passar a primeira e a última noite. O parque fica
a cerca de 1 km da cidade, e é conveniente ir para lá de carro, porque não sei
de autocarros e a pé é um pouco longe para ir e vir da cidade. O parque é muito
catita, pequeno mas muito bem arranjado, cheio de auto-caravanas e instalações
que parecem mais casas que campismo, com antenas parabólicas, aparelhos de ar
condicionado. Aliás, a ideia de campismo é algo que escapa a muitos destes
“campistas”… : )
O parque custa 3,5€ por pessoa/noite, e mais 3,5€ por
tenda/noite. Ter o carro lá dentro custa mais 3€ e eletricidade 2€.
O caminho da Linha do Tua tem de ser feito em autonomia,
pelo que fomos às compras e abastecemo-nos dos mantimentos que iriamos
necessitar. Gastámos 28€ para refeições de 2 dias completos para 5 pessoas, e
ninguém passou fome. Aliás, ainda sobrou alguma comida, mas como tínhamos
trazido barras energéticas de casa, é como se fosse ela por ela.
Dica: Se pretenderem usar o Parque de Campismo
como base, pode ser interessante deixar a tenda lá no dia em que estão a
caminhar. Têm de pagar uma noite que não vão usar, mas como o check-in fecha às
22h e só existe táxi de regresso a Mirandela às 20h, que pode fazer várias
paragens, podem correr o risco de não chegarem a tempo ao parque para fazer o
check-in de novo. E têm a vantagem de chegar do caminho e a tenda já estar
montada… : )
Dia 2
Acordámos no dia seguinte e pusemo-nos ao caminho. A Linha
do Tua desativada começa no Cachão, pois entre o Cachão e Mirandela circula o
Metro. Nós fomos para o Cachão de carro e deixámos lá o carro, mas quem quiser
pode deixar o carro em Mirandela e apanhar o metro para o Cachão. Se o fizerem,
recomendo que apanhem o metro das 7h55, que chega ao Cachão às 8h15 (http://www.cp.pt/StaticFiles/CP/Imagens/PDF/Passageiros/horarios/regional/linha_tua.pdf).
Nós chegámos ao Cachão prontos para arrancar pelas 9h15. Se conseguirem um pouco
mais cedo seria o ideal, já vão perceber porquê mais à frente. No Cachão há um
café de uma senhor muito simpática onde a malta se pode abastecer, beber o café
e iniciar viagem. A senhora foi simpática o suficiente para nos guardar o carro
no terreno dela, mesmo em frente ao café, mas a estação do Cachão tem
estacionamento para deixar o carro em segurança, segundo ela. Não nos
abastecemos muito, porque já vínhamos preparados com água e comida, que sai
sempre mais barata nos supermercados que nos cafés.
Dica: O maior problema do caminho é a água. Não há muitos
pontos de água espalhados, e é preciso ter atenção a isso. De qualquer das
formas, os pontos de água ou possibilidade de atestar que encontrámos vamos
colocá-los aqui, para que a malta tenha noção do que vai encontrar. Pontos de
venda de comida também não, por isso temos mesmo de ir em autonomia, com
tudo o que vamos necessitar.
A ideia era fazer o percurso em dois dias, indo dormir a São
Lourenço, que era o que nos tinham recomendado os vários blogues. Assim sendo,
o primeiro dia são 26 kms e o segundo dia 13kms de linha, com mais uma subida
para o Fiolhal. O nosso plano era acabar no Fiolhal, e não descer até à Foz do
Tua. Contactámos o senhor do táxi que substitui o comboio neste percurso e combinámos
que nos iria buscar ao Fiolhal.
Começámos então viagem no km 41, num troço de linha bem
verde, acompanhados de perto pelo rio que, quase à mesma altitude que nós,
convidada a banhos. A primeira dificuldade do caminho é, desde logo, caminhar
na linha. As madeiras não estão à distância de passos normais (os homens têm de
encolher o passo, as mulheres de o esticar), pelo que é preciso andar meio na
tábua, meio no cascalho. No início do percurso é possível fazer isto, mas lá
mais para meio o cascalho torna-se maior e temos mesmo de andar apenas em cima
das madeiras. No início, o ritmo atrofia e há uma tendência de ir sempre de
olhos no chão para não tropeçarmos. Correm o risco de perder a paisagem linda
de olival que nos acompanha, pelo que não se esqueçam de olhar para cima de vez
em quando…
Pelo caminho, se formos com atenção, é sempre possível
encontrar alguns dos habitantes da linha, como verão. Este foi o primeiro com
quem nos cruzámos.
Ao fim de 5 kms a primeira paragem: a estação de Vilarinho.
Quando a linha encontra o alcatrão, chegamos à estação e fazemos a primeira
paragem.
Dica: a distância entre estações e apeadeiros é
sensivelmente a mesma. Se forem descansando em cada estação e apeadeiro mantêm
sempre o ritmo. Foi essa a nossa opção, e correu bem.
Na estação de Vilarinho o blogue da Carla e do Rui indica
que há um ponto de água. Nem sequer o procurámos, porque íamos abastecidos,
pelo que não foi possível confirmar se ainda lá estava ou não. A estação está
fechada, mas o armazém ao lado da estação está aberto e permite abrigo. A linha
está cheia de palha, mas circula-se bem.
De Vilarinho o percurso continua até Ribeirinha, a 3 km.
Neste troço as vertentes estão cobertas de oliveiras e o trilho da linha tem
bastantes silvas e ervas daninhas. A estação de Ribeirinha (km 34) foi
convertida numa casa particular, e é possível abastecerem água nesse local. A
aldeia de Ribeirinha fica também muito perto da linha, caso precisem de algo
mais, mas não sei se terá algum café ou mercearia, pois não fomos ver.
Daqui para a frente, o vale do rio começa a ficar mais
encaixado porque começam os afloramentos graníticos até alcançar a estação de
Abreiro (km 29). Este percurso corresponde a aproximadamente 5 km. Antes da
estação de Abreiro, que fica por baixo de uma ponte. Podemos ver do lado
direito da linha a Ponte do Diabo. Segundo nos explicaram alguns pescadores que
encontrámos na linha a regressar de uma manhã de pesca, esta ponte medieval foi
destruída nas cheias dos anos 20 do século passado. Com umas tábuas, ainda era
possível passar por ela, mas um padre do século passado entendeu que esta ponte
era obra do Diabo ou algo assim e destruiu o resto. Sobram os pilares, e a
calçada romana do outro lado do rio.
A estação do Abreiro, 12 kms depois de termos partido, é um
bom local para almoçar e pôr os pés de molho. A estação está aberta (partiram
as portas que tinham sido emparedadas) e dá para descansar lá dentro. Como
fizemos a caminhada em Agosto, o calor era bastante, por isso resolvemos sempre
parar nas horas de maior calor. Ao lado da estação há um caminho que nos leva
por baixo da ponte metálica para um local com erva onde é possível descansar,
dormir uma soneca à sombra e molhar os pés, ou mesmo tomar banho. Não o fizemos
porque estava vento, mas a área tem condições para isso. Tínhamos indicação de
que haveria um fonte de água do outro lado do rio, mas uma das pessoas do grupo
foi procurar e não a encontrou. No entanto, os mesmos pescadores que
encontrámos também nos confirmaram que deveria haver lá a fonte…
Como o almoço previsto eram sandes, não foi preocupante, mas
se pretenderem cozinhar, tenham atenção a isto.
Depois da merecida soneca (que nos soube pela vida),
retomámos caminho para aquela que foi a parte mais dura do caminho. Passámos
pela primeiro ponte metálica do percurso e seguimos até Codeçais (km 25) num
caminho um pouco duro, pois os 4 kms têm poucas sombras. Antes de chegar à
estação, existem dois pontos de água. São canos que saem da rocha, e não
conseguimos perceber se eram nascentes ou não. A água era gelada, onde caía do
cano havia muito musgo, e sabia bem, mas não podemos garantir que fosse
nascente. Provámos a água e seguimos viagem. Parámos em Codeçais cheios de
calor, e quando seguimos viagem as reservas de água começaram a ficar num nível
que poderia ser complicado. Por isso, quando umas centenas de metros à frente
da estação encontrámos outro ponto de água igual aos anteriores, não hesitámos:
enchemos os cantis de água fresca, bebemos à vontade e seguimos caminho. Dos 5
que compunham o grupo, um teve uma indisposição à noite, mas não sabemos bem do
que foi. Todos comemos e bebemos do mesmo, mas só ele se ressentiu. Coloco aqui
a indicação porque também pode ter sido da água, mas também pode não ter sido.
Dica: Quer seja para recolher água destes pontos,
quer seja para recolher água do rio, em caso de emergência ou para cozinhar,
pode sempre ser útil levar as pastilhas de purificação de água, que resolvem os
problemas todos.
Este troço depois da estação de Codeçais é o mais duro. São
4 kms sempre à torreira do sol até se chegar à estação da Brunheda. Não há
sombras, por isso é importante ter muita água. A estação da Abrunheda está
aberta e, no caso de considerarem fazer a caminhada em 3 dias, poderia ser o
melhor local para passar a noite antes de São Lourenço. A estação está aberta e
perto tem uma adega. Vimos lá carros, mas não fomos investigar. O nosso
taxista, o Sr. Viriato, disse-nos depois que podemos ir à adega do Engº
Mesquita, explicar quem somos e pedir para visitar a adega. Eles dão-nos água e
ainda nos deixam provar o vinho que lá fazem. Segundo ele, são muito
acessíveis, portanto acho que vale a pena a pausa, mas nós não a fizemos.
Depois da Brunheda, começam a aparecer sombras e o terreno
começa a ficar com fragas de granito e o rio fica um pouco mais abaixo. São 3
kms até ao apeadeiro do Tralhão (km 18) e depois mais 3 kms até São Lourenço. O
apeadeiro do Tralhão está fechado e tem umas escadas de lado onde permite
descansar à sombra, mas sem pontos de água. Daí até São Lourenço o sol já
estava escondido por trás dos montes, por isso caminhámos grande parte do
percurso à sombra. O rio aqui entra na parte de vale e começa a ficar mais
picado, com elevações altas de um lado e de outro.
Com o final do primeiro dia a aproximar-se, comecei a
aperceber-me de uma das maravilhas deste caminho: quando o corpo entra no ritmo
da caminhada, e como vamos completamente sozinhos (nos dois dias cruzámo-nos
com um grupo de escuteiros à chegada ao Fiolhal, no fim, os pescadores antes do
Abreiro e umas pessoas que cumprimentámos na Ribeirinha, nada mais), este é um
excelente caminho para pensarmos sobre a vida. Aliás, uns Exercícios
Espirituais em andamento seria algo de muito interessante, até porque as
estações proporcionam paragens regulares… fica a ideia para os jesuítas que
lerem estas linhas.
Quando chegámos a São Lourenço, por volta das 19h, tínhamos
a ideia de pernoitar na estação, mas encontrámo-la fechada, ao contrário das
indicações que tínhamos lido. Subimos à aldeia para vermos das termas, mas
também já tinham fechado (funcionam das 9h-13h e das 15h às 19h). Um dos
habitantes da aldeia indicou-nos a fonte um pouco mais acima onde poderíamos
tomar banho e ter água. Subimos e vimos do que se trata: a fonte está dentro de
uma espécie de templo a São Lourenço, e sai para dentro de um tanque, onde nos
podemos banhar. No entanto, aquela água, apesar de aparentemente potável, tem
um cheiro desagradável, a ovos podres. Dá para tomarmos banho lá, e é
tranquilo, mas para abastecer de água para cozinhar recomendo que utilizem uma
torneira que está do lado de fora do templo com o tanque, que apenas deitava um
fiozinho de água, mas que sabia bem melhor que a outra. De qualquer das formas,
se chegarem antes das 19h, podem ir às termas pedir água, e aí será certamente
melhor.
O templo tem um terraço por cima onde cozinhámos e onde
passámos a noite. A aldeia não tem nenhum café o coisa do género, e o mais
próximo, segundo nos disseram, fica a 20 minutos de caminhada. Depois de 26 kms
a pé, não fomos ver onde era…
Jantámos arroz à escuteiro, com salsichas, chourição, ovos
cozidos, enfim, tudo o que tínhamos nas mochilas e que tinha sobrado do almoço.
A mistura foi tanta que não sei mesmo se o P. não se sentiu mal do jantar… : )
Dica: Trouxemos para a caminhada um toldo leve.
Serviu para fazer de sombra, de abrigo para a noite, e de proteção para o chão.
É uma opção leve e muito útil, que substitui perfeitamente a tenda, mesmo para
dormir ao relento, pelo menos neste tempo quente de Verão.
Parece que houve umas pessoas que resolveram de madrugada
vir tomar banho ao tanque, mas eu não dei por nada. De qualquer das formas,
fica a indicação de que dormir aqui pode não ser absolutamente tranquilo para
quem tem o sono leve. Se dormirem lá em baixo perto da estação também nos
disseram que era tranquilo, nós é que resolvemos dormir onde tínhamos jantado.
Dia 3
Arrancámos bem cedo, cansados, mas animados com o facto de
hoje serem apenas 13 kms. São Lourenço é o ponto de cota máxima da barragem,
pelo que os 13 kms que fizemos neste dia serão os que ficam submersos pela
barragem quando esta estiver pronta. É também a parte mais bonita do caminho,
pelo que é mesmo de aproveitar enquanto a barragem não fica completa. O caminho
é todo feito com fragas a pique e o rio lá em baixo, mais ou menos próximo.
A primeira paragem é a estação de Santa Luzia (km 13), que,
apesar de a estação estar fechada, tem um armazém aberto para nos abrigar. Do
outro lado do rio há a povoação de Amieiro e um teleférico fazia a ligação
entre as duas margens. O teleférico está desativado, porque sem comboio não há
razão para alguém vir para este lado, pelo que apesar de a povoação estar
perto, não vimos forma de lá chegar.
À saída da estação de Santa Luzia, os carris desaparecem por
alguns metros. Alguém precisava de vigas para a sua casa e serviu-se. Umas
centenas de metros à frente, a linha está bloqueada por um desabamento de
rochas. Alguém travou o resto do desabamento com cabos de aço, pelo que se
passa com segurança pela zona. A partir daqui, com a luz da manhã, começamos a
ver a beleza do rio e da linha, que rasgam as fragas. Passamos também pela
segunda ponte metálica do percurso. São quatro as pontes metálicas, e todas em
excelentes condições de segurança e conservação.
Por várias vezes, a linha segue em paralelo com o rio, bem
lá em baixo, tornando a paisagem lindíssima. Mais à frente passamos pela
terceira ponte metálica e logo à frente o primeiro túnel.
Dica: Existem 5 túneis, se a memória não me falha,
uns maiores que outros. São ótimos pontos de paragem, mas nenhum deles tem
condições para se passar a noite dentro deles, porque o chão é cascalho, tábuas
e vigas dos carris, sem espaço para mais nada. Ah, e alguns têm morcegos e
aranhas aos montes…
Cerca de 5 kms depois de Santa Luzia, chegamos ao apeadeiro
do Castanheiro (km 7). O apeadeiro está todo emparedado e não tem sombra
nenhuma, mas se olharmos para o outro lado da linha, é impossível evitar um
sorriso: uma bela praia fluvial de areia e erva dispõe-se ali para dar descanso
aos caminhantes. A água fresca sabe muito bem, e por isso decidimos parar ali
para tomar banho, fazer o almoço e deixar passar a hora do calor. Meus amigos,
e que bem soube a banhoca! Quando estamos de molho dentro de água, os peixes
curiosos aproximam-se dos nossos pés e começam a bicar. É uma esfoliação
gratuita muito agradável, e vale bem a pena.
Depois do banho, cozinhámos o nosso esparguete com atum,
almoçámos e dormimos a sesta merecida. Não há pontos de água, portanto tivemos
de usar as nossas reservas para o almoço. Outra opção será a água do rio
fervida. Em caso de emergência será uma opção boa, mas será sempre preferível
usar a água que trouxerem de nascente.
Dica: No segundo dia não encontrámos nenhum ponto
de água a não ser o rio. É conveniente atestarem bem em São Lourenço,
principalmente se, como nós, pretenderem cozinhar a meio do percurso. Só
voltámos a ter água no Fiolhal, no fim do caminho.
Arrancámos já o sol estava mais baixo, para evitar a
torreira do dia anterior, até porque a distância a percorrer seria menor. Ao km
6 temos um túnel e uma ponte num dos locais mais bonitos do percurso, com uma
encosta de pedra do outro lado do rio. Vale a pena parar e absorver a paisagem.
O caminho mantém-se depois sensivelmente o mesmo, mas à chegada ao último túnel
do percurso (o último a sério já é depois das obras, pelo que não é possível lá
chegar) encontrámos um pobre pássaro que não conseguia levantar voo. Ainda
tentámos ver se teria algum problema, mas aparentemente não, pelo que nada podíamos
fazer por ele a não ser deixá-lo num local onde não se magoasse. Provavelmente
não sobreviverá, mas se alguém passar por lá nos próximos dias, procure por
ele…
Quase 1 km depois, encontramos o apeadeiro do Tralhariz (km
4). Tem uma das portas emparedadas partida e dá para entrar na estação, mas
está muito suja. Aliás, isto foi algo que se notou em muitas das estações onde
parámos. Era visível que tinham lá estado pessoas não só pelos restos de
fogueiras, mas também pelo lixo acumulado que se via nos locais. Não há pontos
de lixo em toda a linha, pelo que é necessário carregarmos todo o lixo
connosco. No entanto, há, como sempre, gente muito preguiçosa que deixa as
latas de atum e os pacotes de sumo espalhados por todo o lado. Imbecis acho que
é o termo científico que os designa…
Depois do Tralhariz começam a ver-se as obras da barragem.
Está a ser construída do outro lado do rio uma represa grande para que as
terras não venham por aí abaixo quando a água por ali começar a subir, e é aí
que nos lembramos que grande parte do que vimos vai desaparecer em breve, e é a
parte mais bonita que vai ficar submersa. Fiquei triste pelo local que vai
desparecer, e ainda mais feliz por me ter desalojado do sofá e me ter posto a
caminho. Não há como conhecer o nosso país para aprendermos a dar-lhe mais
valor, e esta memória já ninguém ma tira, nem a água da barragem…
Chegados ao km 3, a linha desaparece por completo. Tirámos
as fotos da praxe e iniciámos a subida para o Fiolhal. O caminho de terra
batida fica do ladoesqerdo da linha e é fácil de encontrar. São 1,5 kms de
subida para um desnível de 300m, à torreira do sol, com poucas sombras. No fim
do caminho, é doloroso, extenuante, e chegamos lá acima derreados, pelo que
atenção a esta subida, o caminho da Linha do Tua não acaba no km 3…
Chegados ao Fiolhal, fomos bem recebidos pela população
local que nos abasteceu de água, que já vinha nas últimas, já que na subida foi
sempre a consumir. Daqui à Foz do Tua é possível descer a pé, pela estrada ou
por atalhos, num caminho de cerca de 6 kms por estrada. Nós tínhamos apontado
apenas chegar ao Fiolhal e esperar pelo táxi do Sr. Viriato, a quem tínhamos
ligado, mas um simpático habitante do Fiolhal ofereceu-se para nos levar à
estação da Foz do Tua, pois ali não havia cafés e lá poderíamos descansar
melhor e beber algo fresco. Assim, fomos à boleia numa carrinha de caixa aberta
até à estação e lá ficámos a aguardar o Sr. Viriato e o seu táxi.
Dica: Quem pretender fazer o caminho todo tem de
contar com a distância para a Foz do Tua. Esses kms a mais podem colocar um
peso extra no segundo dia ou eventualmente obrigar a um terceiro dia de
caminhada. Nesse caso, seria eventualmente de dormir no Fiolhal, por causa da
água, já que não há pontos de água ou aldeias entre São Lourenço e o Fiolhal,
ou então arrancar cedo e fazer mais kms de uma só vez…
Para regressar ao Cachão, existe um serviço de táxis que faz
o percurso Foz do Tua – Cachão às 12h05 e às 19h55. Podem utilizar esse sistema
ou, caso não tenham vindo de carro, na Foz do Tua podem apanhar um comboio para
o Porto (horários aqui: http://www.cp.pt/StaticFiles/CP/Imagens/PDF/Passageiros/horarios/regional/porto_regua_pocinho.pdf).
Para os táxis, é preferível ligarem sempre com antecedência para o Sr. Viriato
(o número está no primeiro link que coloquei mais acima) para ele ir a contar
com o grupo e levar um carro que leve toda a gente. A viagem dura mais ou menos
uma hora e se forem com paciência deem corda ao motorista, que a viagem vai ser
inesquecível… com sorte, ainda vos leva a ver os animais feitos em pedra, uma
raridade local que ninguém sabe onde apareceu… a sério, dêem-lhe corda que não
se vão arrepender!
Dica: A Linha do Tua pode ser feita neste sentido
ou ao contrário, começando na Foz do Tua e subindo até ao Cachão. Não têm de
fazer a subida para o Fiolhal, mas penso que terão de fazer os outros kms todos
a subir, pois há uma ligeira inclinação. Além disso, terão os kms ao contrário:
13 no primeiro dia (mais os kms a partir da Foz do Tua, se começarem de lá), e
26 no segundo, o que também pode não ser bom. Eu recomendo fazerem como
fizemos, até porque se não levarem carro seguem logo para o Porto no comboio.
Chegados a Mirandela, fomos jantar numa barraquinha de nome sugestivo: Mc da Erica. Regressámos ao parque de campismo e dormi muito bem. Eu, porque havia festa na cidade e os DJs ficaram até às 6 da manhã a bombar e o resto da malta queixou-se de manhã... :)
Dia 4
No último dia, fomos a banhos de manhã, porque o parque de campismo tem um açude junto do rio Tua perfeito para uns mergulhos (também tem piscina, mas paga-se à parte), almoçámos pela cidade e fomos embora da parte da tarde, fugindo do calor. Portanto, para quem é de Lisboa, recomendo os 4 dias de passeio, para tudo se fazer com calma.
Dica: querem um souvenir inesquecível? Apanhem um parafuso da linha, há vários espalhados ao longo do caminho...
Mais uma vez, obrigado à Carla e ao Rui e ao seu post que
muito nos serviu: http://viajarentreviagens.blogspot.pt/2012/06/pe-pela-linha-do-tua.html . Quanto ao resto da malta, façam-se à linha enquanto é tempo!!!!!
Deixo aqui uma galeria com as melhores fotos do caminho, a ver se abre o apetite de quem ainda está indeciso. Para quem ainda ficou com dúvidas, usem a caixa de comentários que responderei ao que souber.
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